23/09/2017
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23 Setembro 2017
No Aquário de Rimini, um cabo-verdiano, Jorge Edson "Eddy" Tavares, domador de leões marinhos, e a italiana Gessica Notaro viveram dois anos maravilhosos. Em janeiro deste ano, tudo se desmoronou: ele agrediu-a atirando-lhe ácido ao rosto. Nove meses depois do crime, Eddy está preso e Gessica, desfigurada, contou no palco do ’Miss Italia 2017’ como está, pouco a pouco, a reconstruir-se por dentro e por fora.
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“Deixei de me sentir envergonhada. Hoje ando de rosto descoberto e cabeça alta”, diz hoje a vítima que subiu ao palco do Miss Italia 2017 para levar a sua mensagem enquanto ativista contra a violência baseada no género.
Em 10 janeiro deste ano, Gessica Notaro teve queimaduras profundas no rosto, principalmente na região dos olhos, e quase perdia a vista. Esta originária de Rimini, na Emilia-Romana, eleita miss dessa região setentrional do país em 2007, mesmo ano em que foi finalista do Miss Itália, acusou o ex-namorado Jorge Edson Tavares de lhe ter jogado ácido no rosto, à porta de casa.
Tavares, que nasceu em Cabo Verde e cresceu na Itália, jurou a sua inocência. Falsamente, alegou que no momento do crime estava com outra mulher na cidade vizinha de Cattolica. Traído pelo GPS, que o colocou no local do crime, está preso numa penitenciária da região a aguardar julgamento.
Apelo por uma nova lei
No palco do ’Miss Italia 2017’, Gessica Notaro deixou o seu apelo, “Contar a minha experiência, fazer ver o que me aconteceu deve servir para sensibilizar, mas corro o risco de estar com uma faca de dois gumes porque muitos vão pensar que podem ‘copiar’ aquela brutalidade”, explica a jovem de 28 anos.
“É preciso uma lei para a prevenção e que proteja quem denuncia”. Ela tem presente que no seu caso a agressão aconteceu após ter apresentado queixa.
Nove operações
As feridas, as cicatrizes estão visíveis no rosto de Gessica. As marcas psicológicas também, quando lhe volta a memória da violência sofrida.
Otimista, diz: “Agora estou melhor, o rosto deixou de estar tão inchado, a pele já não repuxa tanto, já faço quase tudo o que fazia antes”. Já fez oito operações, a nona será em dezembro próximo.
“Habituei-me ao meu novo aspeto, começo a reconhecer-me neste novo rosto. Hoje posso dizer que me sinto orgulhosa, mais forte, uma pessoa melhor”.
Interrogada sobre o seu agressor, diz que só lhe deseja que aprenda com o seu erro.
Incidente no Miss Italia: “Sinto-me italianíssima a 100%”
A final do evento, que teve lugar na última semana, contou com outro facto que fica na história: a concorrente da região do Friul, que chegou em terceiro lugar, acusa o apresentador italiano de "ter influenciado a decisão do júri popular, ao dizer em direto" que ela provém do Senegal, a terra onde nasceu o pai.
Samira Liu, de 19 anos, contesta: “A minha mãe é italiana, eu nasci em Itália e sinto-me italianíssima a 100%, aquela frase de Facchinetti influiu na decisão do público em casa, sobretudo pelo momento histórico que estamos a viver. É inevitável eu estar zangada e desiludida: estou convencida que podia representar a minha região e a Itália".
Fonte: Corriere dela Sera