As medidas da Miss Peru 2017 são as medidas de todas nós

03/11/2017

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02.11.2017 às 13h22


Sou totalmente contra o reforço de estereótipos que os concursos de beleza acarretam. Eventos totalmente focados na imagem corporal das mulheres, tal qual objeto que merece estar numa montra, neste caso a do mundo. Contudo, hoje vou dedicar algumas desta linhas a enaltecer a última edição da Miss Peru 2017, que usou o tempo de antena que lhe é devido em prol de uma mensagem que vai para lá das medidas corporais das mulheres a concurso.


Quais são as medidas das aspirantes a Miss Peru 2017? Eis algumas das respostas dadas ao mundo por estas mulheres peruanas: “O meu nome é Camila Canicoba. As minhas medidas são 2.202 casos de femicídio registados nos últimos nove anos no meu país” ; O meu nome é Juana Acevedo. As minhas medidas são que mais e 70% das mulheres do nosso país são vítimas de assédio sexual”; “O meu nome é Karen Cueto. As minhas medidas são 82 femicídios e 156 tentativas só este ano”; “O meu nome é Samantha Batallanos. As minhas medidas são a cada dez minutos uma menina morre vítima de exploração sexual no mundo”.


E porque é que concorrentes e organização decidiram surpreender tudo e todos com algo do género? Porque sabem que é urgente agitar consciências e alertar para a violência contra a mulher. Violência física, psicológica, abuso e assédio sexual, exploração sexual, tráfico humano e violência contra menores foram alguns dos temas trazidos a palco por estas 23 mulheres, com a ajuda de outra mulher, a responsável pela produção do evento.



Todos estamos habituados a que estes concursos explorem os atributos físicos das mulheres que entram na competição. Sim, mulheres que entram na competição por livre vontade, ninguém põe isto em causa. Mas mais uma vez friso por aqui que a reflexão sobre o real significado de eventos como estes – e as ideias que estes ajudam a perpetuar - deve ser feita por todos nós, porque as mulheres não são necessariamente mais empáticas nas questões da igualdade só porque são mulheres. Já para não falar do facto de nascermos e crescermos num mundo que ainda nos estimula a abraçar estereótipos como os que sobem ao palco de concursos do género.


Por um lado, somos bombardeadas por informação que nos incentiva a desejarmos ter um corpo assim, com as medidas supostamente certas, que nos garantam uma coroa na cabeça e admiração do mundo, mesmo que isso se traduza cruamente num monte de gente a babar e a fantasiar com o nosso corpo, tal qual peça de carne no talho, sem querer saber de tudo o resto nos torna na pessoas que somos. A mulher troféu, bela e caladinha, ainda vende, não há dúvida. Por outro lado, também somos levados a duvidar da capacidade intelectual de mulheres que cumpram tal imagem corporal. Somos, por exemplo, levados a rir e a humilhar estas concorrentes quando correm aqueles vídeos com as gralhas das aspirantes a Miss, que não servem mais do que para ridicularizar e vincar o estereótipo de que mulher bonita – dentro da tal norma – é obrigatoriamente burra. Uma cabeça de vento que só vai longe porque tem determinado corpo. De uma forma ou de outra, a mulher é sempre penalizada pelos estereótipos, uma tristeza.


Se pensarmos que uma boa parte do universo destes concursos tem um público que muito provavelmente pensa assim, percebemos quão poderoso pode ser usar esse mesmo veículo para passar uma mensagem que nada tem a ver com a objetificação da mulher, mas sim com a sua humanização. Um público que muito provavelmente está longe sequer de questionar os estereótipos presentes neste tipo de de concurso. Pessoas – homens e mulheres - que se calhar nunca pararam para refletir na verdadeira dimensão dos abusos ainda praticados sobre as mulheres nos tempo de hoje, mas a quem é dito explicitamente que isso é errado e que merece ser punido.


A violência e demais formas de abuso afetam uma em cada três mulheres no mundo inteiro. Conseguirmos, em conjunto, que esta realidade chegue às massas é essencial para que haja uma tomada de consciência, algo inequivocamente essencial à mudança. Quando a mudança de mentalidades já tiver acontecido, e as mulheres passarem a ser vistas como pares e não como elos mais fracos, muito provavelmente os concurso de beleza também deixarão de fazer sentido. Lá chegaremos, passo a passo.


http://expresso.sapo.pt/blogues/bloguet_lifestyle/Avidadesaltosaltos/2017-11-02-As-medidas-da-Miss-Peru-2017-sao-as-medidas-de-todas-nos


 

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