Beleza negra exaltada

12/09/2017

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Com apenas 18 anos, a Miss Brasil Monalysa Alcântara, que recebeu o título em agosto, é ativista das causas raciais e é a terceira negra a assumir o posto após Deise Nunes (Rio Grande do Sul) e Raissa Santana (Paraná) 


06.09.2017 por Carol Kossling - Repórter


Monalysa diz que deixar o cabelo natural fez parte do seu processo de autoconhecimento como mulher negra ( Foto: Wilson Filho )



A chegada da Miss Brasil no Piauí causou comoção. Ela se diz tranquila para o Miss Universo: "bom é ser natural" ( Foto: Raissa Morais )


Apesar da pouca idade, a jovem Miss Brasil, Monalysa Alcântara é decidida e sabe onde quer chegar. Durante passagem pela principal semana de moda do País, a São Paulo Fashion Week (SPFW), na semana passada, conversou com exclusividade com o caderno Zoeira.


A ascensão de Monalysa, que nasceu em Teresina, no Piauí, está acontecendo de forma rápida, pois começou a carreira de modelo aos 14 anos e teve sua primeira faixa de miss aos 17 anos.


Após ter sido descoberta em uma agência de modelos, foi convidada para participar do concurso "Miss Teen Teresina" e venceu.


"Meu primo trabalhava com moda, era produtor de uma agência e me chamou, pois precisava de uma modelo negra e de cabelão. Tinha acabado de assumir meu cabelo", lembra a miss sobre o começo.


Desde novinha Monalysa alisava o cabelo por não se perceber negra. Ela brinca que fazia de tudo para tê-lo "esticado".


Por ser magra e alta, os amigos a apelidavam de várias coisas e ela já pensava em ser modelo para "resolver a questão", conta brincando. "Eu já queria isso e sonhava com isso", afirma.


Com os 14 anos começou a desfilar e aos 15 teve sua primeira capa de jornal em Teresina que a ajudou muito a "decolar" a carreira.


"Com isso, as pessoas começaram a me chamar para fazer campanhas de moda e outros segmentos. Já fiz propaganda de tudo que você possa imaginar", comenta. Mas, entre as atividades preferidas, estão desfiles de passarela e trabalhos com as câmeras. "Foto ainda sou um pouco retraída".


Carreira de miss


Em virtude de sua desenvoltura e personalidade única, aos 16 anos começou a participar de concursos de misses. "No começo tive um pouco de resistência por não gostar muito de concursos, mas comecei", diz a jovem.


Hoje carrega os títulos de Miss Teen Teresina, Miss Teen Piauí e vice-Miss Teen Brasil, em 2016 e, finalmente, Miss Piauí e Miss Brasil.


Mesmo com todas qualificações, permanece humilde. "Sempre fico com um pé atrás e os dois pezinhos no chão. Concurso é sempre uma surpresa, muitas vezes a gente convive com uma pessoa dez dias e acha que ela vai ganhar e, no dia, outra pessoa brilha mais", revela.


Bastidores e carreira


Durante o concurso a Miss Brasil comenta que o clima é bacana. "Todo mundo acha que são todas rivais, mas não é bem assim. Claro que rola um atrito aqui e outro acolá pois são muitas mulheres juntas, mas é tranquilo. A gente se ajuda, se diverte e brinca pra caramba", revela.


Sobre os planos para o futuro, ela quer aproveitar tudo que vai acontecer daqui para frente. Na agenda, daqui a dois meses chega a participação no Miss Universo e diz não se preparar muito para aquelas perguntas ao vivo. "Se decorar, dá tudo errado! Bom é ser natural", afirma.


Ativismo


Quando questionada sobre o ativismo relacionado à questão racional, a tranquilidade se instala no bate-papo. "Esta é minha causa, minha bandeira, pois eu vivo isso".


Monalysa acha importante tratar desde cedo o assunto com as crianças.


"A vida me preparou para isso e passei por diversas situações de preconceitos".



Miss-Brasil-2017


No início da carreira como modelo, as capas de jornais como o Meio Norte ajudaram a impulsionar sua visibilidade para os concursos


Mesmo com o pai negro e a mãe filha de negro, na infância e início da adolescência Monalysa não se sentia negra. "Achava que eu era morena, parda, qualquer coisa, menos negra". Foi na adolescência que, pela curiosidade, pesquisou sobre o assunto.


"Tinha uma confusão, pois eu não me enquadrava nesse pardo e não gostava de alisar meu cabelo e vi que eu era negra e meu cabelo era negro e me incomodava alisar o cabelo, mas fazia pela uma imposição da sociedade e nunca mais faria isso", detalha.


E, então, desde esta época por volta de 13, 14 anos, que assumiu os cabelos e começou a desfilar com ele armado e crespo, o que despertou a curiosidade da mídia e das pessoas.


"Crianças falavam para mim que começaram a gostar dos cabelos delas depois que tinham visto o meu", orgulha-se. Nisso, ela conta que começou uma rede enorme a falar sobre o assunto e formou-se um grupo em que debatem preconceito. "Damos dicas, estimulamos umas às outras. Os grupos já chegaram a unir 400 pessoas e falamos sobre empoderamento mesmo para trabalhar desde a infância. Cada uma tem seu tempo de descoberta".


Em relação aos casos que surgiram na internet desde que recebeu a faixa, Monalysa se vê tranquila.


"O preconceito já aconteceu várias vezes na minha vida, já convivo e estou preparada para isso. Quando ganhei o Miss Brasil esperava que isso fosse acontecer", diz.


O que a revolta são as pessoas que chegam para ela para falar que isso é vitimismo e que preconceito não existe, quando ela recebe estas mensagens tolas na internet. "Mas não me afeta e não muda meu dia. Estou sempre feliz e radiante. Estou num momento muito feliz e se duvidam da minha capacidade aí sim que me empodero mais", destaca.


Moda


Para a nova fase, Monalysa contratou uma personal stylist que a ajuda a selecionar as roupas que irá vestir para cumprir a agenda.


A principal referência e inspiração é a top model britânica Jourdan Dunn, informa Vivi Motta, stylist.


"A Mona é iluminada e tem um porte incrível e caminhar lindo. A linha que queremos trabalhar é deixá-la com um ar mais de mulher. Para isso, vamos investir muito em alfaiataria", revela.


Diário do Nordeste, Fortaleza, 06.09.17


http://diariodonordeste.verdesmares.com.br/mobile/cadernos/zoeira/beleza-negra-exaltada-1.1815741


 

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