'Tudo o que eu mais quero é comer hambúrguer', diz Miss Paraná

31/07/2017

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Alexandre Gaioto


31/07/2017 às 15:45


Foco, é preciso ter foco. Preciso manter a dieta minimalista à base de salada, frango e peixe. Preciso cumprir a agenda: primeiro, encontrar o reitor de uma universidade daqui e posar ao lado dele para fotos, sempre sorrindo. Seguir para o salão de beleza onde uma mulher atenciosa e detalhista fará, em duas horas, minha maquiagem. Encarar no estúdio uma sessão de fotos que deve durar mais três horas, com o fotógrafo indicando as poses, de perfil e frontal, quase sempre sorrindo. Preciso mostrar que o treino valeu a pena, que estou preparada para ser Miss Brasil, e por isso mesmo dou toda a atenção do mundo, na recepção de O Diário, a um leitor cinquentão e baixinho, deslumbrado com a visão à sua frente: uma modelo de pele clara e cabelos escuros, de saltinho e coxas à mostra num vestidinho curto.


Torcida salivante


"Você vai ser Miss Brasil, sim, querida! Tudo de bom pra você, viu?!", diz o sujeito gorducho e salivante, enquanto abaixo para que ele, afoito, me beije o rosto.


Minha assessora de imprensa conversa com o repórter que vai me entrevistar, um rapaz de 29 anos, baixinho e gorducho, chamado Alexandre Gaioto. Ele se apresenta rapidamente e me cumprimenta estendendo a mão direita. Seguro a mão dele e, rapidamente, abaixo para um cordial beijo no rosto. Minha reação encabula um pouco o jornalista, que certamente não esperava por isso, e da mesma forma como ele me cumprimentou, estendendo a mão direita, também cumprimenta minha assessora de imprensa e meu consultor de moda.


Vamos entrando no jornal. As funcionárias da limpeza e de outros setores que passam por nós me olham em silêncio, dos pés à cabeça, e digo "oi", "tudo bem?", no rápido trajeto até a Redação. O som seco das teclas ecoando dos computadores dos jornalistas silenciam abruptamente com a minha entrada – nem com Beethoven o silêncio é tão surpreendente. Distribuo sorrisos, enquanto digo, novamente, "oi" e "tudo bem?", até entrarmos numa salinha de reuniões, onde sento, de pernas cruzadas, exibindo dois palmos e meio de minhas pernas, de frente para o jornalista.


Respondo cada pergunta sem desviar o olhar. Digo que vim de Cambé, que me formei em Direito numa instituição particular, que estou cursando o Mestrado em Direito na UEL como aluna não-regular. "Ela não é só um rostinho bonito: ela é inteligente", resume minha assessora.


Garranchando-me


Num bloco de notas, o jornalista vai anotando um monte de garranchos. É uma letra horrível e não sei como ele consegue entender essas coisas depois. Sinto falta de um gravador. Como ele saberá, depois, redigir exatamente as coisas que eu estou dizendo? Ele me diz que fará um perfil, algo diferente, sobre minha vida. Pergunta sobre meu pai, minha mãe, sobre a diversão em Cambé (a 85,9 km de Maringá), e falo das tardes de churrasco nas casas de amigos, falo sobre minha irmã, que é dois anos mais velha e nunca se interessou por essa rotina de modelo. A tudo vou respondendo tranquilamente, sem gestos bruscos, oferecendo muitos sorrisos.


O repórter baixinho e gorducho parece não acreditar nas minhas palavras quando comento que não morro de vontade de hambúrgueres quando vou ao Madero, preferindo comer saladas.


"Duvido", ele diz.


"É verdade: tenho foco na dieta."


Mantenho-me graciosa e sorridente, mas ele, batucando a caneta no bloco, está com uma cara desafiadora.


"Não consigo acreditar."


Ele está certo. Não dá para fingir. Morro de vontade de comer hambúrguer cada vez que entro naquele lugar.


"Assim, eu tenho vontade, claro... Quando o concurso terminar, tudo o que eu mais quero é um hambúrguer do Madero. Tenho que manter o foco, sabe?"


Competitiva


Quando ele me pergunta sobre os hobbies, lembro dos seis anos em que joguei vôlei, no time da cidade, e digo que já viajei para várias cantos do interior disputando partidas. Revelo que sou, sim, competitiva. Faz parte de mim. Esse controle emocional, essa obsessão na vitória: quando eu quero algo, me entrego de corpo e alma. E me sinto mal quando não atinjo meus objetivos, como nas duas primeiras provas da OAB em que não fui aprovada - só passei na terceira. Eu coloco uma música triste, de uma banda evangélica que gosto, e choro durante muito tempo.


Amor silenciado


De repente, ele me pergunta sobre meu grande amor. Conto os detalhes de como conheci meu atual namorado, mas exijo que não escreva nada disso. É um direito meu, não revelar o que não quero. É minha vida particular, aviso. Tomo cuidado para não assumir, pela primeira vez, uma postura diferente daquela que eu tive até agora: segura, serena, sensual.


O repórter me encara fundo: o mesmo silêncio que havia naquela Redação, no momento em que entrei, agora domina a nossa conversa.


"Eu preciso mencionar isso", ele diz.


"Eu não quero", insisto.


Sei o que ele pensou: pela primeira vez, durante toda essa entrevista, há algo de verdadeiro. Minha história amorosa, intensa e inusitada, diz muito sobre mim. Diz quem sou: alguém que sempre consegue o que quer.


Minha assessora, felizmente, rompe o silêncio lembrando ao jornalista que ele poderia mencionar que eu faço trabalho assistencial numa faculdade de Cambé, e que o Miss Brasil será no mês que vem, dia 19, e que sou a primeira mulher de Cambé a ganhar o Miss Paraná, e que tenho tudo para vencer, tal como a Grazi fez.


Quase trinta minutos de conversa. "Obrigado pela visita, Patrícia Garcia", ele diz. Felizmente, acabou. Espero não ter respondido a tudo artificialmente demais. Espero ter demonstrado controle, simpatia, bom humor. Estou treinada. Quando me olho no espelho, quando acordo, quando encaro uma sessão de fotos, eu me concentro e repito baixinho: é preciso ter foco.


http://maringa.odiario.com/parana/2017/07/tudo-o-que-eu-mais-quero-e-comer-hamburguer-diz-miss-parana/2395211/

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